quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Poesia na tela grande

Fui ao cinema assistir a ‘A árvore da vida’ (Terrence Malick) de forma errada, confesso. Cheguei à sessão esbaforida, por estar em cima da hora, e sem a tranquilidade necessária para absorver as emoções do filme. Mas, de cara, as belíssimas imagens e a trilha sonora me trouxeram a calma de volta. Mergulhei no carrossel de sensações que o cinema de Terrence Malick é capaz de proporcionar.
O filme é intimista, denso, reflexivo e, por isso, muitos amaram e tantos outros odiaram. Malick, também responsável pelo roteiro, brinca com a cronologia da história. É como se as mais de duas horas de projeção fossem uma onda torrencial de pensamentos e incertezas decorrentes de conflitos, angústias e medos que assolam o ser humano.
Quando adulto, Jack, personagem central interpretado por Sean Penn, relembra sua vida familiar na infância e questiona tudo o que o levou até aquele momento: o amor incondicional e a doçura da mãe, as brincadeiras infantis, a morte de um dos irmãos e a rigidez do pai.
O espectador até poderia pensar que se trata de mais um filme sobre drama familiar. Poderia até ser, se o diretor e roteirista não fosse o recluso Malick. Entre as lembranças do adulto Jack, interpretado por Sean Penn, assistimos à criação do universo, passando por dinossauros, o mundo marinho, explosões de vulcões. Tudo apresentado de forma muito bela pelas mãos de Douglas Trumbull, diretor de efeitos especiais (o mesmo de ‘2001 – Uma odisseia no espaço’ e de 'Blade Runner').
Malick faz poesia no cinema. É preciso ter um olhar terno, paciente, compreensivo para apreender as emoções de ‘A árvore da vida’. 
Destaco as interpretações de Brad Pitt, Jessica Chaistain e de Hunter McCracken (intérprete do menino Jack). Pitt encarnou muito bem o austero pai de família. Ele se mostra seguro das ações do personagem. Não há exageros de postura, mesmo nas cenas mais intensas. A novata Jessica deu vida à mãe amorosa e doce.  Por fim, o ator mirim dá um show na interpretação do Jack ‘menino’. Um garoto sofrido, triste, cabisbaixo, que não sorri na frente do pai. Ele emociona em muitos momentos, mas destaco a voz rouca e abafada de quando ele pergunta: “Por que ele nos machuca?”.
Em seu filme ganhador, neste ano, da Palma de Ouro em Cannes, Malick nos faz refletir sobre existência humana e a questionar Deus. A câmera e as imagens em contraluz nos levam sempre para o alto, para o céu, e, ao mesmo tempo, para dentro de nós.
Não se pode assistir a esse filme com a urgência que acessamos a internet, nem com a impaciência de quem quer um final feliz, por que Malick não dá respostas, ele traz indagações profundas e íntimas. É o cinema fazendo poesia.


Grata às queridas Tatiana Guimarães e Sarah Santos.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O cinema brasileiro na corrida ao Oscar

Saiu a lista dos filmes brasileiros que estão concorrendo a uma vaga para representar o cinema nacional na premiação. Lembrando que o longa escolhido disputará a tão famosa estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, se algum for escolhido (em 2010, não tivemos nenhum filme nacional nessa categoria. 'Lixo Extraordinário' concorreu a melhor documentário). O resultado sai no dia 20/09/11 e o Oscar 2012 acontece dia 26 de fevereiro.

         Confira a lista:

A Antropóloga (Zeca Nunes Pires)

As mães de Chico Xavier - (Glauber Filho e Halder Gomes)

Assalto ao Banco Central(Marcos Paulo)

Bruna Surfistinha (Marcus Baldini)

Estamos Juntos (Toni Venturi)

Família Vende Tudo (Alain Fresnot)

Federal (Erik de Castro)

Filme Vips (Toniko Melo)

Histórias Reais de um Mentiroso VIPS (Mariana Caltabiano)

Lope (Andrucha Waddington)

Malu de Bicicleta (Flávio Ramos Tambellini)

Mulatas! Um Tufão nos Quadris (Walmor Pamplona)

Quebrando o Tabu (Fernando Grostein Andrade)

Trabalhar Cansa (Juliana Rojas e Marco Dutra)

Tropa de Elite 2 (José Padilha)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Fiquei devendo...

Fiquei devendo uma ficha sobre trabalhos e prêmios de Paulo Halm. Segue lista abaixo:

Diretor

  • Histórias de amor duram apenas 90 minutos (2009)
  • O resto é silêncio (2003). Média-metragem. Prêmio de melhor roteiro no Festival de Gramado.
  • Retrato do artista com um 38 na mão (2000). Média-metragem. (contou com a participação de Rui Guerra)
  • Bela e galhofeira (1998). Média-metragem.
  • Biu - a vida real não tem retake (1995). Média-metragem.
Roteirista

  • Não se preocupe nada vai dar certo (2010), de Hugo Carvana
  • Histórias de amor duram apenas 90 minutos (2009)
  • Antes que o mundo acabe (2010), de Ana Luiza Azevedo. Em parceria com Ana Luiza Azevedo, Jorge Furtado e Giba Assis Brasil.
  • Sonhos roubados (2009), de Sandra Werneck, em conjunto com Michelle Franz, Adriana Falcão, Sandra Werneck, José Joffily e Mauricio Dias.
  • Olhos azuis (2009), de José Joffily, em parceria com Melanie Dimantas. Prêmio de melhor roteiro no Festival de Paulínia.
  • A casa da mãe Joana (2008), de Hugo Carvana
  • Achados e perdidos (2006), de José Joffily. Premio de melhor roteiro adaptado para cinema pela Academia Brasileira de Letras (2006)
  • Cazuza – O tempo não pára (2003), de Sandra Werneck e Walter Carvalho. Primeiras versões.
  • Dois perdidos numa noite suja (2002), de José Joffily
  • O sonho de Rose - Dez anos depois (2000), de Tetê Moraes
  • Amores possíveis (2000), de Sandra Werneck
  • Mauá - O imperador e o rei (1999), Sérgio Rezende
  • Pequeno dicionário amoroso (1997), de Sandra Werneck
  • Guerra de Canudos (1997), de Sérgio Rezende
  • Quem matou Pixote? (1996), de Hector Babenco. Premio de melhor roteiro no Festival de Gramado 1996. (Foi também diretor assistente e produtor executivo)
  • A maldição do Sanpaku (1992), de José Joffily
       Fonte: www.filmeb.com.br

No site http://www.portacurtas.com.br/buscaficha.asp?Diret=728 é possível assistir a alguns curtas de Paulo Halm. Acompanhe, também, o blog do cineasta: http://paulohalm.blogspot.com/

terça-feira, 30 de agosto de 2011

"Histórias de amor duram apenas 90 minutos"


De repente, o imprevisto veio e me pegou pelo avesso. Passei um bom tempo programando meu dia e executando o programado até que... liguei a TV. A meta era assistir a ‘Manderlay’ (Lars von Trier) e preparar o prometido e tão atrasado post sobre ‘Melancholia’, algumas obras do cineasta dinamarquês e o movimento Dogma 95. Mas, como disse escrevi, liguei a TV e comecei a, despretensiosamente, ver um filme nacional. Passava em um dos canais Telecine. A cena era com o Caio Blat, numa festa, procurando a esposa e achando que ela o traía... com outra. Pronto, naquele momento, precisava saber que filme era aquele e aonde essa história ia terminar.

O filme em questão é ‘Histórias de amor duram apenas 90 minutos’ do premiado roteirista, Paulo Halm. E a história... bem, é cativante, interessante, sensual, envolvente e bem escrita.
Histórias’ estreou em março de 2010 e imagino que muitos já o tenham assistido (talvez não). O filme foi classificado como comédia romântica, o que é possível, mas, na verdade, o longa tem proximidade com drama. Definitivamente, não gosto dessas classificações tão usadas/marcadas no cinema americano, quando aplicadas a outras cinematografias. A sensação que tenho é de resumir demais histórias e conteúdos que sempre vão além...

 Para mim, é o caso de ‘Histórias’. O filme nos impõe questionamentos diversos sobre amadurecer, trabalho e relações amorosas e... é brasileiro, ou seja, é próximo de nossa realidade. É quando rola a tão falada identificação com o que se vê. O Zeca (protagonista) é o tipo de cara que a gente encontra por aí, mesmo sem conhecer. Júlia e Carol (os outros vértices do triângulo) são mulheres que vemos pelas ruas do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, e em outras cidades brasileiras.

Esse foi o primeiro longa da Halm como diretor. Antes, ele só havia feito curtas e médias, além de ser responsável por vários roteiros de sucesso (veja lista com alguns filmes, no final do post). Como grande roteirista, Halm criou personagens sedutores, ‘perdidos’ e sarcásticos e soube escolher muito bem o elenco. Caio Blat foi o Zeca; Maria Ribeiro fez a moderna Júlia; Daniel Dantas interpreta o intelectual amargo Humberto, pai de Zeca; e a argentina Luz Cipriota deu vida à bela, loira (irritantemente bela e loira) e dançarina, Carol.
A narrativa in off trouxe um clima levemente rodriguiano para história. Estamos conhecendo os pensamentos mais íntimos de Zeca. Isso é bem claro, quando na cena em que ele conta ao seu pai o drama vivido, ele custa a se abrir e nós, há tempos, já sabíamos de tudo.

A sensualidade e o erotismo das cenas de sexo não são apelações (como podem pensar alguns) ou desnecessárias. O drama do rapaz, que tem medo de se tornar adulto, envolve paixão, libido e tesão. Ele não consegue escrever seu livro, vive de mesada do pai e da pensão da mãe falecida, e além de tudo, está infeliz. No meio de tudo isso, Zeca se imagina (será só imaginação?) traído pela sua esposa e atraído pela possível amante da esposa. Zeca vive ao extremo as suas paixões. Ao ponto, de numa cena, ele assumir que fisicamente não consegue mais dar conta das duas mulheres. Fico imaginando as opiniões masculinas a respeito...
Além das ruas e praias da Cidade Maravilhosa, o cenário se resume a três apartamentos: o de Zeca e Júlia, o de Humberto e da Carol. A diretora de arte, Renata Ribeiro, que trabalhou com Cláudio Assis nos filmes 'Amarelo Manga''Baixio de Bestas', criou três ambientes tão distintos e característicos que nos fazem mergulhar na essência de cada personagem.  Destaco o escritório de Zeca. Estantes de madeiras, cheias de livros se colocam como uma redoma, como se daquela forma, ele conseguisse se inspirar e escrever seu romance.

Ah, para completar, a música Nature Boy (Nat King Cole), interpretada por Caetano Veloso, caiu como uma luva para o Zeca de Caio Blat.

No mais, Halm construiu uma história leve e reflexiva, na qual nos identificamos com os personagens. Então, fica a dica para seu próximo filme. Boa diversão!
P.S.: esse post teve a colaboração de Laura Milan na revisão de texto.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

30 anos sem Glauber

Mais adiante, farei um  post sobre Glauber e sua grande importância para o cinema nacional. De momento, deixo o link dessa entrevista com a mãe do cineasta.
D. Lúcia Rocha foi a grande responsável pela perpetuação e preservação da obra de Glauber. Confiram.

http://editora.cosacnaify.com.br/blog/?p=9049


P.S.: na segunda, publicarei o post sobre Lars von Trier, 'Melancholia' e o dogma 95

terça-feira, 26 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

Dizem por aí...

... que Kevin Costner estrelará o próximo filme de Quentin Tarantino (Bastardos Inglorius). O filme será uma homenagem ao gênero western spaghetti, famoso na década de 1960. Por ser de Tarantino, a produção promete.

... que David Yates (quatro últimos filmes da série Harry Potter) está cotado para dirigir uma cinebiografia sobre o gângster americano, Al Capone. Yates ainda estaria sendo sondado para dirigir A Dança da Morte, adaptação do livro de Stephen King, ou a releitura do clássico A Bela Adormecida.

... que Emma Watson faria a Bela de A Bela e a Fera. Mais uma releitura dos clássicos filmes de princesas.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

'It all ends'



Sim, depois de 10 anos, chegou ao fim a saga de Harry Potter. Sete livros e oito filmes transformaram a história do menino órfão, que se descobre bruxo aos 10 anos de idade, em fenômeno mundial e conquistou milhares (seriam milhões?) de fãs em cada parte do planeta.
Pelas mãos e ideias da escritora J.K. Rowling, o ‘menino que sobreviveu’ ao ataque de seu algoz, Lorde Voldemort, ganhou vida e força e marcou seu nome como uma das séries mais importantes da cinematografia mundial. Mesmo os não fãs reconhecem tal importância. Afinal, quem nunca se encantou com a fantasia na tela grande? O sucesso de filmes como E.T, Toy Story, Piratas do Caribe e O Senhor dos Anéis provam que magia e fantasia não são coisas só para crianças.
A magia do bruxinho no cinema começou, em 2001, com “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. J.K. Rowling vendeu os direitos dos livros para a Warner Bros., mas nunca abandonou sua cria. Ela exigiu que os atores da série fossem predominantemente ingleses e chegou até a barrar Steven Spielberg como diretor. Para Rowling, dessa maneira, a cultura inglesa estaria preservada. 
Então, começou a maratona. Quem faria Harry, Rony e Hermione? Graças a Chris Columbus (diretor responsável pelos dois primeiros filmes da franquia) e ao talento dos novos atores, Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson deram vida a Harry, Rony e Hermione, respectivamente (parto do pressuposto que alguém não sabe quem são). Juntaram-se a eles, atores já consagrados no teatro e cinema britânicos como Maggie Smith, Robbie Coltrane (dizem por aí, que ambos foram escolhidos por Rowling), Richard Harris, Alan Rickman (também dizem que foi escolha pessoal da autora de Potter), Julie Walters e Ian Hart. Posteriormente, Ralph Fiennes, Helena Bonham Carter, Jason Isaacs, Mark Williams, Imelda Staunton, Miranda Richardson, Gary Oldman, Michael Gambon, Timothy Spall, dentre outros.
A ‘Pedra Filosofal’ fez  muito sucesso e é, atualmente, a nona maior bilheteria do cinema. Mas o êxito do filme não se deve apenas aos fãs do livro, que na época lotaram os cinemas.
Chris Columbus e toda equipe de produção levaram para tela grande a descoberta do mundo mágico. A câmera segue aos olhos do menino bruxo, o que ele vê nós também vemos. Com isso, Columbus conseguiu que cada espectador se sentisse ao lado de Harry, indo para o Beco diagonal ou chegando a Hogwarts. O mundo mágico se descortina também para gente, estamos surpresos. É como se de repente, nós fizéssemos parte da turma do Harry Potter.
Em 2002, “Harry Potter e a Câmara Secreta” trouxe para os cinemas um carro voador, um salgueiro lutador, aranhas gigantes, capa da invisibilidade e um elfo doméstico. Mas, o filme não ficou preso somente aos efeitos visuais. Ainda que de forma discreta, o mal começa a se aproximar de Hogwarts. Fato que pode ser percebido na cena em que Harry, pelo diário de Tom Riddle, volta ao passado e vê o corpo da aluna morta sendo transportado. Ao dar mais espaço para Draco Malfoy (interpretado pelo também iniciante Tom Felton), Columbus transpôs para tela o preconceito da elite dos bruxos de sangue-puro contra os nascidos trouxas (quem não nasce bruxo). Destaque também para a interpretação brilhante de Kenneth Branagh como o herói falsário, Gilderoy Lockart.
“Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban” foi o ponto de virada da franquia no cinema. Embora tenha continuado na produção executiva, Columbus deu lugar ao mexicano Alfonso Cuáron (E Sua Mãe também) que imprimiu novo ritmo e trouxe um ar mais denso a Hogwarts. Com a fotografia escura, por vezes granulada, de Michael Seresin, fica claro para o espectador que a inocência dos primeiros anos na escola de magia chegou ao fim e que o retorno de Voldemort está cada vez mais próximo. A figura dos dementadores representa o fim da alegria e isso é mostrado por cores frias em tons acinzentados e azuis e em cenas onde flores murcham. A elipse (passagem de tempo na história) é feita de forma suave nas cenas em que o salgueiro lutador mata um passarinho azul que pousa em seus galhos ou quando a coruja de Harry, Edwiges, faz seus longos voos.
Ainda destaco a forma elegante e delicada, na qual Cuarón introduz Michael Gambon como o ‘novo’ Dumbledore. Após apresentação do coral de sapos, O Diretor da escola surge na tela, com novo figurino, e se apresenta aos alunos. Vale lembrar que Gambon substituiu Richard Harris, que havia falecido pouco antes do lançamento do segundo filme. Não há dúvida de que a passagem de Alfonso Cuarón pela série mostra o amadurecimento da história e dos personagens. É o início da angustiante adolescência e do aumento do conflito entre Harry e o Lorde das Trevas.
Em 2004, “Harry Potter e o Cálice de Fogo” chega com novo diretor, Mike Newell (O Sorriso de Monalisa). Com ares sombrios, fotografia densa, névoa, planos fechados nas expressões dos atores e a introdução de um personagem frio e dissimulado como Bartô Crouch Jr e da manipuladora Rita Skeeter, ele mostra que ‘nada será mais como antes’, como questiona Hermione aos seus amigos na cena final do filme. Newell explorou nos personagens, especialmente Harry, a tensão constante causada ora por causa das paixões juvenis, ora por causa da disputa do Torneio Tribruxo, ora pela evidência de que ‘Você-sabe-quem’ vai retornar. O Baile de Inverno é usado como um momento de descanso em meio a toda tensão. É um breve alívio para personagens e espectadores diante do que estar por vir. No final, após a luta com Voldemort e a já referida frase de Hermione, quando os colegas de Beauxbatons e Durmstrang partem, vemos no horizonte nuvens pesadas se aproximando de Hogwarts.
“Harry Potter e a Ordem da Fênix” foi o primeiro filme da saga dirigido por David Yates, que soube aproveitar o clima sombrio de seus predecessores. Além disso, Yates criou por meio da alternância de planos abertos e fechados, o clima de conspiração e desconfiança presente na história. O espectador sente como se, a todo instante, houvesse alguém vigiando Hogwarts.
A fotografia de Slawomir Idziak (Falcão Negro em Perigo) transforma Hogwarts num lugar seco e cinza, bem diferente do castelo acolhedor dos outros filmes, presente mesmo no já sombrio Cálice de Fogo. A falta de cor do cenário da escola contrasta com o exagero rosa de Dolores Umbridge. Uma mulher dissimulada, sádica e irritante que mostra a opressão do Ministério da Magia sobre a escola. Vale lembrar que rosa é a mistura do vermelho e do branco e é uma cor usada para representar o amor ou para atrair simpatia. O rosa excessivo do figurino e do cenário de Umbridge é usado para falsear sua essência cruel e destacar sua presença em Hogwarts. Durante as aulas de defesa da Armada de Dumbledore, Yates explorou outros personagens, como Neville Longbotom, Cho Chang, Gina Weasley e Luna Lovegood.
“Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, também dirigido por David Yates, tem um ritmo fragmentado e lento, mas assume algumas características do livro de Rowling. Yates quebra o clima pesado dos outros filmes ao enfocar mais as histórias de amor dos jovens bruxos. Nesses momentos, Bruno Delbonnel (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) brinca com a fotografia. Ele alterna o acinzentado e azul dos momentos sombrios com os tons de vermelho nos momentos de namoro dos jovens. São duas realidades presentes numa mesma história.
A produção peca em não ter adaptado a batalha de Hogwarts e o funeral de Dumbledore. Faltou mais tensão nesse momento da história. Em várias entrevistas, Yates justificou a ausência dessas cenas para não brigar com o clímax do ultimo filme.  
“Harry Potter e as Relíquias da Morte – parte 1”, chegou aos cinemas em novembro de 2010. O filme tem estilo de road movie. Harry, Rony e Hermione são caçados pelo Ministério da Magia, dominado por Voldemort e sua trupe. O deslocamento constante de lugar e de paisagens, muito bem explorado por Yates pelos planos gerais, mostra que Harry não se encaixa mais no ‘novo’ mundo da magia. A angútia do isolamento é presente nas feições dos três personagens o tempo todo.  Os efeitos visuais também são muito bem trabalhados em cenas como a de destruição do medalhão de Sonserina e a da casa de Batilda Bangshot, quando esta se revela ser Nagine e ataca Harry. O penúltimo filme da franquia cria o medo da perseguição no espectador. Assim como chegamos a Hogwarts juntinho com Harry, estamos fugindo e nos escondendo como ele.
 “Harry Potter e as Relíquias da Morte – parte 2”. Numa sala lotada de ‘pottermaníacos’, gritos, ansiedade... suspiro... mais gritos... ansiedade...mais gritos... ansiedade aumenta... Surge, na tela, a logo da Warner Bros. em meio a nuvens (aliás, faço um a parte, assim como os filmes, a marca da empresa e o título do filme foram se tornando cada vez mais sombrios). Mais gritos. Começa o último filme da franquia. Um silêncio doído toma conta da sala 3 do cinema Boulevard.
David Yates fez deste filme uma parte final dos filmes de ação. Ao tempo todo as coisas acontecem. É uma ação angustiada e tensa, retratando o estado emocional de Harry, Rony e Hermione. Os três jovens bruxos seguem sua luta pra encontrar as horcruxes que faltam. A tensão é evidente. É hora do tudo ou nada. 
A invasão ao Banco de Gringotes ganha destaque pela brilhante atuação de Helena Bonham Carter como Herminione se passando por Belatriz Lestrange. Ela é tão convicente que em momento algum o espectador enxerga na atriz a odiosa bruxa que na ‘Ordem da Fênix’ sai gritando ‘eu matei Sirius Black, eu matei sirius Black’.
Hogwarts tornou-se um ambiente ainda mais frio, seco, estranho e nada acolhedor. Cercada e acuada, a escola dirigida por Severo Snape lembra um campo de concentração, onde os alunos marcham e não mais correm em seus corredores. Fica evidente o domínio das forças do Lorde das Trevas no mundo da magia. A elite bruxa impõe sua força sobre os mestiços e nascidos trouxas. Mas, ainda assim, em seu interior Hogwarts luta. O mesmo castelo dominado pelo mau abriga seus resistentes.
Outro momento tratado com delicadeza e sem se perder do contexto foi o tão aguardado beijo de Rony e Hermione. Quando os dois enfretam a magia negra saída de mais uma horcrux destruída e sobrevivem a uma tromba-d’água, eles se beijam. O beijo não passa despercebido por nenhum fã da série, mas tambem não é carregado de clichês como em tantos outros filmes teen.
Ao mostrar a destruição de espaços conhecidos do castelo, como o campo de quadribol ou a cabana de Hagrid, David Yates não só representa o domínio de Voldemort, como, simbolicamente, mostra para o espectador que é o fim. Nunca mais veremos Harry apanhar o pomo de ouro na sua firebolt ou tomar chá com o guarda-caça da escola.
A cena na qual Harry vê na penseira as lembranças de Severo Snape é sem dúvida a mais emocionante do filme. Esse momento é o ponto alto não só de ‘Relíquias parte 2’ como também de toda narrativa. Alan Rickman tem atuação brilhante e mostra porque o professor de Sonserina merece dar nome ao filho de Potter. Ele transforma o duro e seboso Severo Snape em um homem leal e amoroso.
A partir de então, Harry segue seu destino. Em mais uma cena realizada com bastante sutileza, emoção e sem pieguice, Yates mostra a despedida de Harry, Rony e Hermione. Assim, Yates permite que espectadores e fãs também se ‘despeçam’ de seus personagens preferidos. 
Ao longo do filme, em várias partes nas quais os três jovens bruxos são focados, Harry está sempre a frente de Rony e Hermione. Como aprendi, nada em cinema é gratuito. Esse destaque não representa somente que ele é o personagem principal ou que ele tenha mais poderes que os outros. Yates deixa claro que Harry é um grande bruxo sim, mas isto se vale muito mais pela pureza de caráter e honestidade que ele possui. E o desfecho é quando ele nega o poder absoluto da varinha da varinhas, bem diferente das opiniões de seus dois melhores amigos.
David Yates concluiu a saga de Harry de forma fiel ao livro de Rowling e soube dosar na medida exata todos os elementos essenciais para o desfecho da narrativa. Ação, efeitos especiais e emoção constroem o clima de dominação, de resistência e de luta presentes em Hogwarts.
Não poderia deixar de falar da música tema do bruxinho, Edwiges Theme, composta por John Williams. Pra quem não sabe, é o mesmo autor dos temas de Tubarão, E.T., Superman, Indiana Jones e Star Wars. Williams soma em seu currículo nada mais, nada menos que 45 indicações ao Oscar. Tendo vencido cinco vezes.
A franquia sempre trabalhou com excelentes profissionais. Diretores de arte, de fotografia, roteiristas, figurinistas, montadores e equipe de efeitos especiais, todos foram essenciais. Stuart Craig (designer de produção) foi o responsável pela transformação do mundo bruxo em realidade. Judianna Makovsky, Lindy Hemming e Jany Temime dividiram os figurinos da série. Sendo que Temime foi a responsável desde o ‘Prisioneiro de Askaban’. Os já citados diretores de fotografia foram responsáveis pela transformação do mundo mágico em um ambiente sombrio e dominado pelo mal. O roteirista Steve Kloves adaptou a história de Rowling para o cinema sem perder os conceitos gerais da obra e em alguns momentos deu ritmo para o que funciona na literatura e não na linguagem cinematográfica. As equipes de efeitos especiais e visuais, determinantes para o sucesso da produção, inovaram em cada filme com o intuito de manter o encantamento do espectador.
 Talvez essa seja a mais importante contribuição da franquia Potter, a prova de que é possível realizar um (ou melhor, oito) blockbuster de qualidade, reunindo bons profissionais de todas as categorias a partir de uma boa história. Claro que sem a história criada por J.K. Rowling nenhum trabalho teria aparecido.
Enfim, fica a tristeza de imaginar como serão as próximas férias de julho sem Harry Potter nos cinemas...