quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Poesia na tela grande

Fui ao cinema assistir a ‘A árvore da vida’ (Terrence Malick) de forma errada, confesso. Cheguei à sessão esbaforida, por estar em cima da hora, e sem a tranquilidade necessária para absorver as emoções do filme. Mas, de cara, as belíssimas imagens e a trilha sonora me trouxeram a calma de volta. Mergulhei no carrossel de sensações que o cinema de Terrence Malick é capaz de proporcionar.
O filme é intimista, denso, reflexivo e, por isso, muitos amaram e tantos outros odiaram. Malick, também responsável pelo roteiro, brinca com a cronologia da história. É como se as mais de duas horas de projeção fossem uma onda torrencial de pensamentos e incertezas decorrentes de conflitos, angústias e medos que assolam o ser humano.
Quando adulto, Jack, personagem central interpretado por Sean Penn, relembra sua vida familiar na infância e questiona tudo o que o levou até aquele momento: o amor incondicional e a doçura da mãe, as brincadeiras infantis, a morte de um dos irmãos e a rigidez do pai.
O espectador até poderia pensar que se trata de mais um filme sobre drama familiar. Poderia até ser, se o diretor e roteirista não fosse o recluso Malick. Entre as lembranças do adulto Jack, interpretado por Sean Penn, assistimos à criação do universo, passando por dinossauros, o mundo marinho, explosões de vulcões. Tudo apresentado de forma muito bela pelas mãos de Douglas Trumbull, diretor de efeitos especiais (o mesmo de ‘2001 – Uma odisseia no espaço’ e de 'Blade Runner').
Malick faz poesia no cinema. É preciso ter um olhar terno, paciente, compreensivo para apreender as emoções de ‘A árvore da vida’. 
Destaco as interpretações de Brad Pitt, Jessica Chaistain e de Hunter McCracken (intérprete do menino Jack). Pitt encarnou muito bem o austero pai de família. Ele se mostra seguro das ações do personagem. Não há exageros de postura, mesmo nas cenas mais intensas. A novata Jessica deu vida à mãe amorosa e doce.  Por fim, o ator mirim dá um show na interpretação do Jack ‘menino’. Um garoto sofrido, triste, cabisbaixo, que não sorri na frente do pai. Ele emociona em muitos momentos, mas destaco a voz rouca e abafada de quando ele pergunta: “Por que ele nos machuca?”.
Em seu filme ganhador, neste ano, da Palma de Ouro em Cannes, Malick nos faz refletir sobre existência humana e a questionar Deus. A câmera e as imagens em contraluz nos levam sempre para o alto, para o céu, e, ao mesmo tempo, para dentro de nós.
Não se pode assistir a esse filme com a urgência que acessamos a internet, nem com a impaciência de quem quer um final feliz, por que Malick não dá respostas, ele traz indagações profundas e íntimas. É o cinema fazendo poesia.


Grata às queridas Tatiana Guimarães e Sarah Santos.

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